Freud já dizia, no início do século, que nossos hábitos são o resultado de normas inconscientemente introjetadas. O que significa que agimos mais ou menos robotizados. Até certo ponto, isto representa uma economia de energia. Não dá para refletir sobre cada movimento que fazemos diariamente. Hábitos são resultado de consensos que, por sua vez, vão gerar normas – normas de vida, normas alimentares, normas de pensamento, normas políticas.
Só que nem todas as normas são boas. Existem aquelas que levam à doença, ao conflito, à morte. E aí é que a norma leva à 'normose' , ou seja, uma doença mental para além da neurose e da psicose e que ainda não foi descoberta pela psiquiatria e talvez, por isso mesmo, ainda não tenha sido classificada pelo PIB.
Alguns exemplos de 'normose': o cigarrinho depois (ou antes) do cafezinho. Além de viril, o cigarro confere um ar de desenvoltura àquele que fuma.
E o chopinho da sexta feira? Este é sagrado, não é? Não mata, mas pode dar uma barriguinha. E a capirinha? E o baseado? Não tem problema, todo mundo faz! Por que não? E depois, o que vão pensar de mim?
A 'normose' leva a hábitos inconscientes perniciosos, como o hábito natural de comer arroz polido, pão branco, café, carne, açucar branco, ovos com hormônio, tranquilizantes, mania de remédios , som bem alto, etc., etc.
A normose na agricultura leva ao hábito dos agrotóxicos, das queimadas, da crença de que a fertilidade da terra é inesgotável; na educação, gera métodos de ensino que levam à produção de autômatos em série; na política, a prática normal da corrupção pela ausência natural de valores éticos; na relação entre os sexos, o machismo, que é a crença numa supostamente natural superioridade do homem sobre a mulher.
E, finalmente, a 'normose', para a Psicologia Transpessoal, ( ficou por último, mas não por acaso), e que pode estar na base de uma crença generalizada na separatividade, que, sob a forma de dualismo, gera distorções básicas na percepção da realidade. Um exemplo disso é a exigência de “objetividade”, em teses e pesquisas do estudo acadêmico, que elimina a percepção singular do sujeito em favor daquilo que todos vêem no objeto. Como se isso fosse possível... mas, assim é o método científico.
Onde está o sujeito que sente, percebe, opina, julga, escolhe? O cientificismo o descarta sumariamente... Será que este princípio (da separatividade sujeito-objeto) não estaria na causa da desumanização da ciência, da tecnologia, da educação, da política, da economia?
Os valores éticos estão no ser humano, não no objeto. Então, para que(m) serve a objetividade (dita) científica?
A Psicologia Transpessoal vem em nosso auxílio para desmitificar esse dogma: realidade não é algo que tem consistência. Ela não existe. É mera percepção de nossos sentidos; produto de nossas crenças.
A consciência tem vários níveis de percepção do real e o interpreta subjetivamente. Portanto, objetividade é pura subjetividade. Não possui nenhum estatuto de garantia da verdade. É apenas uma interpretação possível entre outras. O que vai determinar sua singularidade é o estado (nível) de consciência onde a percepção atua.
Quais são as consequências da 'normose' da separatividade? O sujeito se vê separado do objeto e vai percebê-lo através de sensações de prazer ou desprazer. Freud detectou isso na relação mãe-filho(a) e percebeu a importância, a nível psíquico, do fator emocional na separação do corpo materno. A partir dessa separação originária (que também é uma crença ) definem-se 3 caminhos possíveis de relação com o outro/objeto (mãe, pai, irmão, amigos, namorado(a), marido, esposa, etc.): o apego, a recusa ou a indiferença.
Nem é preciso dizer que cada um desses sentimentos gera uma multiplicidade de outros mais, como o ciúme, a rivalidade, a raiva, o desprezo, a possessividade, a competição, a depressão, o isolamento, o medo...
A crença na sepa
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