Apesar de todo o avanço tecnológico da medicina, é crescente o nível de insatisfação com a visão mercantilista, fragmentada e mecanicista do ser humano, no atual modelo de saúde. Sem falar no mau atendimento à população, na falta de recursos médicos e no descaso para com a dor e a dignidade daqueles que sofrem. Esta é uma visão que reduz o paciente a um corpo sem subjetividade, onde tudo que existe é um amontoado de órgãos que são tratados como peças de uma máquina.Qualquer uma pode ser substituída, lubrificada, consertada. Não existe uma preocupação verdadeira com a inter-relação entre os órgãos do corpo e nem desses para com os níveis mais sutis da subjetividade, como se nossos sentimentos e pensamentos não interferissem no estado geral de saúde. Os exames de laboratório substituíram o olhar, o toque, a escuta. Mas, com toda a sua sofisticação tecnológica, um exame de laboratório não passa de uma linguagem mecânica de máquinas, que não captam emoções nem sentimentos por detrás de um órgão doente.
Como nos sentimos diante disso? Impotentes, insignificantes, desorientados e perdidos. Os antigos tratamentos caseiros à base dos chás e das ervas medicinais foram esquecidos e substituídos por cápsulas e comprimidos caros e repletos de efeitos colaterais. Costumes corriqueiros como andar descalços e receber a energia da terra também foram substituídos pelas sandálias de borracha ou de plástico, que isolam os pés do contato com a terra. Nossa vida não acompanha mais os ciclos da natureza, todos os alimentos tornaram-se contaminados pelos agrotóxicos, a água que bebemos está suja e até o ar que respiramos está saturado de poluentes. Não nos damos conta de que os efeitos nocivos desse estilo de vida são de ordem física, emocional, mental e espiritual. Não surpreende que nossa civilização esteja profundamente adoecida em todos os níveis.
É nesse contexto que surge um novo perfil de profissional da saúde, resgatando conhecimentos ancestrais, trazendo uma nova visão de saúde holística e integrada, consciente de que o ser humano é uma unidade físico-emocional-mental-espiritual, e em sintonia com as mais recentes descobertas científicas da Física sobre matéria/energia. O Terapeuta naturólogo, seja através da fitoterapia, dos florais, da acupuntura, da aromaterapia ou cromoterapia, reiki, toque terapêutico, reflexologia e muitas outras abordagens, é o novo profissional das medicinas complementares, holísticas e integrativas.
Algumas mudanças já começam a ser observadas. Segundo a ONU - Organização Mundial da Saúde, cada vez mais pessoas recorrem às práticas complementares e holísticas como tratamento para seus problemas de saúde. Recentemente, a ONU reconheceu também formas não convencionais de tratamento, como parteiras, benzedeiras, raizeiros, e algumas técnicas de terapia vibracional A acupuntura, a homeopatia e a fitoterapia tornaram-se disciplinas universitárias. O bem estar obtido num atendimento dessa natureza já começa pelos cuidados com a energia e a vibração dos consultórios: muitas plantas, música suave de fundo, essências aromáticas no ambiente, cores tranqüilizantes nas paredes, almofadas pelo chão, decoração profundamente espiritualizada. Afinal, quem não gosta de ser bem-tratado?
Contudo, este é um momento em que é preciso refletir sobre os rumos e os perigos que rondam essa mudança de perspectiva. Atualmente, muitos são aqueles que estão sentindo o chamado para o trabalho terapêutico. Pessoas de diversas áreas – pedagogos, funcionários públicos, engenheiros, advogados, empresários --- sentem e respondem ao chamado para as artes de cura. Por onde começar? A maioria busca cursos que oferecem técnicas e instrumentos práticos e funcionais. Estamos contaminados pela visão tecnológica, onde o que importa é ter uma boa técnica, uma boa ferramenta nas mãos para poder trabalhar. Queremos ir pelo caminho mais rápido. Mas, atenção, o caminho do Terapeuta começa por ele mesmo. A palavra “terapia’ significa ‘cuidar’. E para se tornar Terapeuta, é preciso começar por aprender a cuidar de si mesmo. Para não cair na teia sedutora do mercantilismo que ronda as profissões.
Um Terapeuta não é um tecnólogo. Nem um curador. Ele é um mestre que sabe como despertar o curador interno do paciente, como estimular sua auto-confiança e fé no seu poder pessoal de criar um estado de saúde. Toda cura verdadeira envolve a auto-transformação. O Terapeuta é aquele que sabe como devolver a capacidade de se curar a quem a perdeu, e por isso está doente.
Por isso, há que se cuidar do perigo tentador de colocar as ferramentas em primeiro lugar. Técnicas, métodos, teorias, práticas, tudo isso são apenas ferramentas que só existem para auxiliar no trabalho do mestre que ensina ao paciente como despertar de sua inconsciência, de sua passividade mórbida e dependência do outro, alimentada por um modelo de medicina que começa a dar sinais de decadência em nossa cultura. Um verdadeiro Terapeuta deve ter, em primeiro lugar, um coração aberto e receptivo.
Estes são os princípios que norteiam o nosso curso de pós-graduação em Práticas Integrativas e Complementares que irá se iniciar no dia 29 de setembro em Campinas. Essa é a nossa contribuição para uma mudança de paradigma em saúde.
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