O livro de Simone de Beauvoir publicado em 1949 na França foi o marco
de profundas mudanças que estavam por vir em todo o mundo. Ainda não
se falava em ‘feminismo’ e pela primeira vez se discutia abertamente as
questões sexuais das mulheres, até então encobertas por um moralismo
hipócrita e conservador.
Simone de Beauvoir vinha da alta burguesia francesa, estudou nos
melhores colégios de Paris e fez 3 faculdades: Matemática, Letras e
Filosofia. Desde muito jovem começou a manifestar um comportamento
ousado e rebelde. Mas foi quando conheceu Sartre, na Sorbonne, onde
ambos cursavam Filosofia, que ela rompeu definitivamente com todas as
expectativas familiares e passou a viver de uma forma totalmente fora dos
padrões da época. Questionavam o modelo monogâmico do casamento,
diziam não acreditar em Deus nem na religião, e optaram por uma relação
amorosa aberta, onde ambos podiam estar sexualmente com outros
parceiros.
Simone viveu em Marseille e em Rouen, trabalhando como professora de
Filosofia, e nessas ocasiões ela se envolveu amorosamente com algumas
alunas, entre essas uma russa, por quem foi apaixonada. Retornando a
Paris, passaram a viver um triângulo amoroso ao qual se juntou um ex-
aluno de Sartre, formando o que eles chamavam de La Petite Famille.
Eles eram vistos constantemente juntos porque para eles era natural viver
assim. Mas isto chocava os parisienses e ela sofreu as consequências disso
quando foi demitida da Sorbonne, acusada de corrupção de menores pela
mãe de uma das jovens com as quais se relacionou. Sua conduta
profissional também chocava a equipe docente porque ela costumava
discutir escritores homossexuais como Proust e Gide em sala de aula com
os alunos.
Em 1944, Simone e Sartre, após a saída dos alemães de Paris e indignados
com os horrores da guerra, criaram uma revista Les Temps Modernes, que
permaneceu como polo de discussão intelectual na França por 25 anos.
Foi referência para assuntos políticos da esquerda, para a precária
condição da mulher na sociedade e críticas ao moralismo parisiense da
época.
Suas ideias começaram a desenvolver uma filosofia que foi chamada de
‘existencialismo’, onde se defendia a liberdade absoluta do ser humano
junto a total responsabilidade por seus atos e destino.
A partir daí, e influenciada por Sartre, Simone começou a escrever livros
sobre a condição da mulher e fazer palestras e conferências em
universidades americanas para lançar suas obras. Livros como O Segundo
Sexo e o romance O Mandarim fizeram muito sucesso, e Simone passou a
ser reconhecida definitivamente como uma escritora existencialista com
forte engajamento político e literário.
Sua posição feminista foi reforçada por sua participação no movimento
pela libertação da Argélia, e especialmente pelo livro que escreveu sobre a
tortura de mulheres pelos militares franceses. Djamila Boupacha foi uma
jovem argelina de 28 anos torturada e violentada cruelmente durante a
ocupação da Argélia e sua história se tornou pública por causa do livro de
Simone de Beauvoir.
Com muita inteligência e sensibilidade literária, ela tornou visível a
situação que as mulheres sofriam numa sociedade moldada pelas leis do
patriarcalismo, e denunciou a cumplicidade do silêncio das famílias
burguesas acomodadas e cegas perante essa realidade. Mais ainda, ela
viveu às claras tudo aquilo que pregava em seus livros, liberdade total e
responsabilidade perante suas escolhas.
Simone de Beauvoir morreu aos 78 anos de idade, em 1986 e foi
homenageada por mais de 5 mil pessoas em Montparnasse, em Paris.
Escreveu 29 grandes obras criticando sempre o falso moralismo e
incentivando a liberdade essencial de cada um.
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