Em tempos antigos, quando o conhecimento era pautado por outras referencias que não o materialismo científico, os terapeutas se formavam em escolas iniciáticas, onde aprendiam a ver o mundo de forma holística e integrada. No antigo Egito, os reis eram aqueles que mais se destacavam como curadores. Homens e mulheres estudavam por longos anos isolados nos templos, e passavam por muitas provas e iniciações até atingir o mais alto conhecimento, que era o conhecimento de si mesmo. Só então tornavam-se sacerdotes e curadores. E só quem era um curador estava apto a governar. Por isso, todos os reis eram sacerdotes/curadores. Hoje sabemos que a decadência do império egípcio foi concomitante com a perda do auto-conhecimento. A política passou a ocupar um lugar de destaque entre os governantes, as guerras de colonização e integração de territórios tornou-se prioridade nesta milenária nação, e os sacerdotes, outrora mestres, passaram a membros da corte, usufruindo do poder e da riqueza dos faraós. A decadência de um país começa quando os governantes entendem que não se trata mais de curar um povo de sua ignorância e criar condições para retirá-lo da inconsciência, mas de mantê-lo nessa posição para melhor dominá-lo. A era de aquário trouxe um chamado coletivo para as artes de cura. A Teosofia já dizia, em seus textos antiqüíssimos, que a era de Quíron traria de volta antigas feridas e, consequentemente, a necessidade da auto-cura para que novos curadores surgissem. É uma exigência natural que o curador deva primeiramente curar-se a si mesmo. Atualmente presenciamos pessoas das áreas mais diversas – educação, engenharia, funcionários públicos, da área empresarial, do direito etc – buscando o caminho das terapias holísticas. Muitos cursos oferecem um treinamento rápido em técnicas simples e naturais, e a maioria se encanta e começa a vislumbrar a possibilidade de se tornar um terapeuta. Mas, logo que começam a praticar, aqueles que estão conscientes da grandiosidade de sua missão se deparam com uma dificuldade enorme: não foram preparados para serem ‘Terapeutas’, e sim, para aplicar determinadas técnicas. Esbarram nos limites de uma formação inadequada e superficial. E aí percebem que o primeiro passo, o mais fundamental, não foi dado ainda: aquele que o torna um terapeuta. Sentem-se inseguros, confusos e sem noção dos limites e do alcance de sua prática terapêutica. Por isso, temos assistido a uma perigosa ‘banalização’ de sintomas por pessoas que não estão ainda amadurecidas para cuidar do ser integral. Na ânsia por resultados, muitas vezes promete-se demais – cura-se tudo! Sem a compreensão de que o sintoma é o verdadeiro caminho que pode nos conduzir de volta à nossa alma... e isso é que é a cura! Pouco a pouco foi se definindo, para mim, a ideia de que todo processo terapêutico é o caminho de uma terapia iniciática. Cada passo é um portal que se abre para uma dimensão mais vasta.E desde que a cura seja entendida como o retorno da Alma a sua origem, cada nível nos inicia num nível mais alto, onde outros desafios nos esperam. Por isso, as escolas às quais me associei nesse projeto não foram a acadêmica, a científica ou a religiosa, e sim, as tradições iniciáticas do passado, hoje semi-esquecidas. Foi quando encontrei, na Psicologia Sagrada (Durckeim, Joshua, Houston e muitos outros), sinais que apontavam na mesma direção que eu desejava seguir. Inspirada por antigos conhecimentos milenares, a Psicologia Transpessoal não prioriza a sintomatologia, mas vai direto à fonte de todos os nossos males: a trágica separação entre nossa dimensão corpórea e nossa Alma. Esse é o corte, a fratura ontológica que fragiliza os nossos alicerces conscienciais. Isso não quer dizer que os sintomas não devam ser levados em conta; apenas que eles são redimensionados segundo uma visão mais abrangente. Muitas vezes, os sintomas são o único guia que temos para reencontrar o caminho de nossa essência e nossa verdadeira missão na vida. Por isso não podemos suprimi-los sumariamente, como o fazem os tratamentos habituais. Pelo contrário, precisamos ouvi-los. Compreendê-los. A leitura que se faz dos sintomas, em nossos dias, é absolutamente tecnicista. Busca-se localizar o problema por meio de exames laboratoriais, e com uma boa ferramenta nas mãos o médico especialista supõe que curar é eliminar o sinal do desequilíbrio no corpo do seu paciente. É como apagar a luzinha de alerta que acende num carro quando há um problema no seu funcionamento. Não vê que o sintoma é apenas o sinal de algo que não vai bem no ser integral, um desequilíbrio interno que se manifesta em algum ponto do corpo ou da mente. O sintoma é uma pista importante que temos para seguir. Não devemos ignorá-lo, tampouco apagá-lo. Na direção contrária a esta tendência às especializações, um Terapeuta Transpessoal não é um especialista, e muito menos um tecnólogo. Ele não pode ver o outro como uma máquina desajustada, que pode ser consertada com alguns apliques aqui ou ali – sejam eles energéticos, espirituais ou alternativos. A própria compreensão do que é um desajuste ou desequilíbrio psicossomático precisa ser redimensionada para uma outra leitura, onde o que está em jogo não é o desaparecimento do sintoma, e sim, o ensinamento do qual ele é um portador. Todas as antigas tradições do planeta afirmaram que uma pessoa não adoece por causas externas, mas sim, porque se separou de sua Fonte (Deus, Espírito, Ser Superior, Energia Cósmica...). Quando perdemos o vínculo com nossa Fonte, nosso sistema imunológico se ressente. E manda sinais. A causa imediata pode ter sido um inseto, um vírus ou uma bactéria; mas a perda da auto-imunidade é uma causa interna. E tem a ver com o modo como lidamos com nosso propósito de vida. A Psicologia Transpessoal começa com um exame no porão de nosso inconsciente inferior, lá onde guardamos as coisas esquecidas e desagradáveis mas, sempre mantendo o foco no suporte invisível que faz a ligação com os outros planos. Cada nível nos leva a novos portais que se abrem para uma iniciação consciente. E cada movimento nos leva mais para perto de nossa Alma e nosso Self. Assim um Terapeuta Transpessoal se forma integralmente. Quando ele está ‘no ponto’, surge um novo mestre, que irá conduzi-lo um lance acima no degrau do conhecimento. E a jornada continua. Até que um dia, ele se torna o ‘mestre de si mesmo ’. Aí é que começa verdadeiramente a sua missão de Curador.
Autor Mani Alvarez
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